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Sam ao Luar

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23
Jun21

Deixem-me ser egoísta à vontade.

Sam ao Luar

Continuo a deparar-me na minha vida com pessoas que não têm a noção que não podem opinar acerca do meu equipamento reprodutor.

Sou mãe de um, com 6 anos feitos. É o meu pequeno mundo, o meu mais que tudo, a razão pelo qual eu me levanto cedo de manhã (verdadeiramente, porque tenho que o levar ao infantário...).

"Então e quando é que vem o irmãozinho?" Nunca. A não ser que apareça em saldos...

"Ohhhh mas é tão lindo um casalinho!..." E como é que eu tenho a certeza que sai daqui uma menina? Basta acender uma vela?

"Ahhh mas ele depois no futuro fica sozinho! É uma pena!" Melhor, leva toda a herança, sem ter que se chatear com ninguém (toda a gente sabe que quando mete dinheiro ao barulho, a maior parte das vezes, dá merda). Além disso, eu tenho uma irmã, com dois afilhados que adoro, e com os quais não vou perder o contacto tão cedo. Nem o meu filho. No futuro, ele terá a sua própria família, os seus filhos e a sua mulher/esposa/companheira. Nunca ficará sozinho.

Se ele vai precisar de ajuda para tratar dos pais velhinhos? É outra questão. Mas eu também não prevejo o futuro. 

Eu não preciso de outro filho. Este, que eu adoro, já me dá muito que fazer e pensar. Ter um filho é nunca mais ter sossego. Ter dois é para quem tem perfil de "escrava". Eu não!

Eu gosto da minha sanidade mental. Sou egoísta e gosto muito do tempo de que disponho para mim. Para a minha casa, para o meu trabalho, para as minhas rotinas. Gosto de ter meia hora para me maquilhar, para ouvir música e dançar pelo corredor, para estar sentada com a língua de fora a ver uma série ou a jogar um jogo qualquer. E tenho orgulho em dizer que não prescindo do tempo que tenho disponível (antes de tudo o anteriormente dito) para estar com o meu ÚNICO filho.

Não quero passar pela gravidez outra vez. A minha foi fácil, sim senhor, nada contra. Não quero parir outra vez, dar de mamar mais um ano e meio, voltar a tirar leite como uma vaca e ter o congelador cheio. Sou egoísta assim. Não quero voltar a engordar 20kg,  deformar novamente o corpo que exibo orgulhosamente, perder o amor próprio e a minha confiança, que trabalhei tanto para voltar a construir. Sou muito egoísta assim.

Deixem o meu sistema reprodutor e o meu agregado familiar em paz!

 

18
Jun21

Desafio dos Pássaros - Caramba, quase que conseguia!

Sam ao Luar

https://desafiodospassaros.blogs.sapo.pt/

            O Dr. Roberto olhou para o relógio. 12h15. Já era a terceira vez que entrava naquela sala fria hoje. “Morrem sempre em trios”, pensou ele.
            O Dr. Roberto é tanatologista. Olhou para o corpo sem vida estendido na marquesa. As primeiras vezes que o fez, fê-lo com alguma relutância, como se estivesse a profanar o corpo de alguém. Hoje em dia, e sendo ele médico de grande experiência e renome, fá-lo como assim deve ser: sem sentimento algum envolvido.
            - Vamos a isto. É para acabar antes da 1, que tenho almoço marcado com a Camila.
            - Sim, Dr. Penso que vai ser fácil.
            Ligou o equipamento de gravação. “12h16. Indivíduo do sexo masculino, 84 anos de idade. Provável causa de morte: enfarte do miocárdio”.
            - Sabrina, bisturi.
            - Sim, Dr.
            Começou por traçar a abertura em Y, tão característica das autópsias. Cuidadosamente, e com a destreza de mestre, começou a separar todos os órgãos internos, intactos e a pesá-los um a um. O sangue, ainda que coagulado, devido ao rigor mortis, começou a acumular-se na marquesa metálica e a escorrer para o chão. Era assim mesmo que normalmente acontecia. Aquela sala fria, toda revestida a tijoleira branca, com grades no chão, concebida para posteriormente alguém lavar tudo à mangueirada.
            - Coração, 300g. Coloração e aparência normal. Fígado, 1200g. Coloração e aparência normal. Pulmão direito, 1000g...
            - Dr.,…
            - Eu sei, Sabrina. Isto não está bem. Verifica o peso novamente, por favor.
            - É 1Kg, Dr. Parece duro, este pulmão.
            - Bolas. Tira amostras dos outros órgãos todos e envia para o laboratório. Histologia e toxicologia, o normal. Este vou abri-lo já...
            A sua curiosidade e excitação começaram a subir. “Isto afinal vai ser interessante!” Começou a abrir o pulmão direito, devagarinho, com gentileza. “Não quero estragar o que está cá dentro.”
             - Dr., não é possível....
             - Olá! Esta nunca tinha visto! Já tinha ouvido falar, mas ver... espetáculo! Tira fotos, Sabrina. Este vai para artigo.
            Dentro do pulmão direito do Sr. Acácio, porque agora já se sabe o seu nome, estava um feijoeiro, recém-criado. O Sr. Acácio, provavelmente engoliu um feijão mal cozinhado, que viajou para o trato errado e seguiu o do sistema respiratório, alojando-se no seu pulmão. O ambiente é quente, escuro e húmido, propício à germinação da semente.
            - Sabrina, tesoura. Quero cortar um pedaço desta beleza e está preso.
            - Sim, Dr. Precisa de saco de amostra?
            - Não, este vai para o frasco no museu.
            - Sr. Dr., são 13 e 15. A D. Camila já deve estar impaciente à espera.
            - Caramba, quase que conseguia!

17
Jun21

Cenas de Ginásio - A sanduicheira

Sam ao Luar

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Para quem não é frequentador de ginásio, eu explico.

Existe um aparelho altamente ergonómico, que não causa qualquer tipo de dor ao seu utilizador, que se designa por "Prensa de Pernas Horizontal" (ou Horizontal Leg Press) e que, segundo descrição na web "é uma máquina de musculação que permite um exercício com alto rendimento ao trabalhar eficazmente a região dos membros inferiores" (coloco foto apenas para referência).

Só que não. É tudo mentira. Parece um objeto de tortura (há piores, no entanto...).

Eu chamo-lhe "a sanduicheira". 

Uma pessoa coloca-se lá dentro com as pernas fletidas, ajusta a carga que tu ou o teu estimado PT colocarem lá na máquina e o objetivo é esticar o pernil, sem bloquear o joelho (ou seja, sem danificar nenhuma rótula) e fazer não sei quantas repetições (aquela que tu decidires, ou o teu PT decidir por ti).

Ora bem, o máximo da carga do aparelho no ginásio que frequento é 100 kg. Comecei com 90kg de carga e a suar por antecipação.

Parecia que estava a parir. A coisa não mexeu um centímetro! O PT põe as mãozinhas (ele é forte, entroncado, uma boa paisagem!) dá o impulso inicial, a máquina mexeu, e eu fiz as 12 repetições. Subiu a carga para 95Kg, fiz mais 10 repetições. Subindo a carga para 100 kg, mais uma moedinha e mais uma voltinha. 1, 2, 3 empurra! Nada. Outra vez: 1, 2, 3 força! Nem um milímetro. Última tentativa. Nicles!

Vá, bom trabalho. Desce aí para os 90 kg novamente e faz mais 8 repetições. O PT também já não aguenta empurrar mais. Foi um bom treino para os 2!

Próximas cenas: falemos seriamente da Air Bike...

11
Jun21

A noite não é boa conselheira.

Sam ao Luar

Diz o povo que a noite é boa conselheira. Pois, eu cá não acho.

Compreendo, no entanto, tal afirmação. É de noite que o cérebro tem tempo para parar e... começar a pensar naquilo que não deve. 

Pois que esta mãe de um de 6, esta noite, enrola, rebola, tira combertor, põe cobertor, tira meia, põe meia, vira de barriga para baixo, para cima, mete os pés de fora, tem fome, não come, fecha o olho mas depois abre outra vez. Isto tudo porque o meu estimado cérebro, esta noite, lembrou-se que o meu único de 6 vai para o 1º ano já neste Setembro.

Ainda não saíram os resultados das matrículas, pelo que ainda não sei se ficará na escola que escolhi como prioridade. E, poranto, toda a preocupação que isso, por si só, já acarreta.

No entanto, o meu cérebro preocupa-se mais com as coisas do foro do coração e a capacidade de desenrascanso que a minha criatura terá. Imaginei o meu filho no primeiro dia de aulas e revivi a cena de à, aproximadamente, três anos atrás, em que o arrancaram do meu colo para que ficasse no infantário: "não se preocupe, mãe, ele fica bem, vai ver! sofremos mais nós que eles!". E tinham razão, mas dói no coração.

Depois imaginei a minha criança, no intervalo, com o seu lanchinho (que irei ter que começar a preparar carinhosamente todos os dias). Pensei cá para mim: e se ele não consegue abrir o iogurte? E se, por acaso se suja todo, e as outras crianças gozam com ele? e se... e se... 

E se ele até tem vergonha de pedir à professora para ir à casa de banho e até tem um descuido? 

Depois revivi na minha mente uma conversa que tivemos. Ele a chorar, sentado no meu colo, eu sentada no chão da casa de banho. Ele de olhar triste, cara de sofrimento. "E se ninguém gostar de mim e eu não tiver amiguinhos?" Respondo-lhe que todos vão gostar dele porque é o melhor menino do mundo!

Vão tirar o meu pequeno tesouro, de novo, do seu porto de abrigo, da sua zona de conforto.

Será que ele sofre como eu? Ou nem sequer pensa nisso e, mais uma vez, sofremos mais nós do que eles? 

A noite é boa conselheira? Uma porra que é! 

04
Jun21

Não aguento mais contigo.

Sam ao Luar

- Não aguento mais contigo! - afirmei, enquanto o atirei para longe.

Aquele vestido já não me serve, não me fica bem. Já nada me fica bem. Já não me reconheço neste corpo. Desde que o bebé nasceu, que já não consigo olhar para o espelho. A cicatriz ainda me dói... nem a fralda eu consigo trocar. Tenho que me ajoelhar. Dói-me tanto as costas!

Estou tão cansada. Cansada das fraldas, das mamadas, das fraldas outra vez, das papas, noites sem dormir, mamas dormentes, cabeça dormente, costas dormentes... Quero fugir.
Já não me lembro de tomar banho, trocar de roupa, maquilhar-me, sair para trabalhar. Aquele f... despediu-me. Só porque estava grávida! Grande merdoso. Se fosse a esposa dele a ser despedida, ligava para as autoridades. E agora? O que vai ser da minha vida?

Estou feia, triste, dormente por dentro. Eu vi a conversa dele com ela, on line. Acho que ele não sabe que vi. Ele também já não deve gostar de mim, por isso lhe falou assim. Nunca conversou comigo assim. Também precisei tantas vez do seu apoio e ele nunca me encorajou assim. Ele convidou-a para um café. Eu sei que eles trabalham juntos e que ele chega sempre tarde a casa. A viagem é tão curta, porque demora tanto tempo? A noite cai tão cedo e eu conto os minutos todos até ele chegar. Para me sentir acompanhada outra vez... Eu sei que ele não tem saudades minhas.

Eu sou fria. A mãe disse-me que eu era fria e calculista. Ainda era adolescente e ela tinha razão. Nunca me ensinaram a ter mimo nem a dar mimo. Não lhe sei dar mimo e ele queixa-se. Será por isso que já não tem saudades minhas?

Eu sei dar mimo. O meu bebé sabe que eu sei. Aqueles dedinhos tão perfeitinhos e aqueles olhos que só me apetece beijar, olham para mim como quem olha para quem dá mimo. Eu amo-o tanto! Não sabia que era possível. Eu ouço mal... e se ele chora a meio da noite e eu não acordo? Não posso pegar no sono profundo. Estou tão cansada! E se ele precisa de mim?...

Queria tanto mergulhar na banheira. Mergulhar de cabeça e sentir paz e silêncio e sossego... Vou encher a banheira e acabar com isto de uma vez. Espera, ele tem que chegar a casa primeiro. O bebé vai ficar sozinho, pode precisar de mim. Eu tenho que ficar aqui... por enquanto. Ele ainda ficou na festa com os nossos amigos. Ouço os foguetes, mas não tenho ninguém para festejar. Ainda ontem esteve no café com o pessoal. Porque quer estar com eles e não connosco?

Vou abrir aquela garrafa. Já está no frigorífico há tanto tempo, deve estar fresco. Vou adormecer num instante e já não vou sentir mais nada. É isso! Não posso... e se ele chora outra vez?

https://desafiodospassaros.blogs.sapo.pt/

02
Jun21

Ode à loucura - versão alfa

Sam ao Luar

Era uma vez um menino

muito muito pequenino.

Vivia numa cabana

e gostava de banana.

 

Vivia com ele uma menina

muito muito pequenina.

Tinha firmeza e beleza

e gostava de framboesa.

 

Vivia com eles um bebé

que ainda não andava em pé.

Adoçava qualquer um

e gostava de Nestum.

 

E é só isto por hoje. Qualquer semelhança com o TPC que "ajudei" a miúda a fazer, é pura coincidência.

01
Jun21

Estás a chorar sem motivo!

Sam ao Luar

"- Estás a chorar sem motivo!"

Quase consigo ouvir a voz de qualquer adulto a dirigir-se a qualquer criança que chora, aparentemente sem motivo. Achei o tema muito pertinente, sendo hoje o Dia Mundial da Criança, e tendo eu chorado baba e ranho, aparentemente sem motivo.

A contextualização não interessa (até porque não quero ter comentários a dizer que, efetivamente, não houveram motivos suficientes para o meu choro). Quero apenas enfatizar que as razões que levam a qualquer indivíduo, criança, adolescente ou adulto, não conseguir segurar as lágrimas, são da sua inteira responsabilidade.

Quando somos crianças e partimos o brinquedo, mesmo que seja um brinquedo sem valor monetário, é aquele sentimento de perda que nos faz chorar. O "estás a chorar sem motivo, deixá lá que eu compro outro" é irrelevante. Aquele brinquedo sem valor monetário mas com grande valor sentimental (e por vezes são realmente esses aos quais os nossos filhos dão mais valor e nem entendemos) perdeu-se e com ele um bocadinho do coração, que ficou tão triste. E a criança chora... e afinal tem os seus motivos.

Hoje chorei porque me senti incapaz. Numa situação que, mais uma vez não vale a pena contextualizar, para não obter comentários de "foi sem motivo". Foram os meus motivos. E eu sei que podem ser desvalorizados, em consciência sei isso. Os motivos são inerentes às situações. Para mim, foi o voltar a uma época que já nem me lembro, em que tinha vergonha de simplesmente estar presente. Chorei também porque senti desmotivação e desilusão no olhar. Senti que falhei comigo e com outros. E foi "o meu" horrível. O meu motivo.

Todos os choros deveriam ser valorizados, mesmo que internamente queiramos com todas as nossas forças dizer a fatídica frase. Um abraço, um "eu compreendo" (mesmo que não compreenda nada), um olhar de empatia, que é tão rara nos dias de hoje. O sofrimento "sem motivo" partilhado é sempre mais fácil de aguentar.

Feliz Dia da Criança (incluindo todas as crianças escondidas em todos os adultos).

 

 

 

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