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Sam ao Luar

Sam ao Luar

31
Jan22

Arte e Inspiração - Several Circle

Sam ao Luar

Several Circle de Wassily Kandinsky.png

Several Circle de Wassily Kandinsk

- 6... 5... 4... Ignição. 

O astronauta sentiu a adrenalina a aumentar e o corpo começou a tremer de ansiedade e excitação. Os motores rugiram. Ele sentiu o combustível a ser injetado nos enormes motores e viu a monstruosa nuvem de fogo e fumo que subia à volta do módulo que o levaria além-mundo.

- 3... 2... 1... Descolagem!

O enorme foguetão começou a subir, ele sentiu o espectável impulso, o aumentar astronómico da velocidade que permitia àquela máquina humana quebrar o atrito da atmosfera e subir em direção ao espaço.

Sempre quisera ser astronauta e viu o seu sonho ser realizado naquele dia. Estudou toda a sua vida e preparou-se física e mentalmente para isso nos últimos meses. De repente, o motor acalmou, o módulo deixou de tremer e ele concluiu que a travessia da atmosfera tinha terminado: estava solto no espaço, atração da gravidade do planeta Terra era já mais fraca. Soltou o arnês que o prendia, começou imediatamente a pairar e olhou pela primeira vez pela janela, para trás, para o planeta do qual acabara de sair.

Viu uma enorme mancha azul, recortada por contentes de diferentes cores. Viu as nuvens que bailavam por cima, percebeu a separação entre a noite e o dia. Viu as cidades iluminadas, identificou algumas. Mas acima de tudo, viu como o planeta era belo. Como a natureza era perfeita.

Pensou naquilo que já pensara muitas vezes: como cientista, não queria acreditar num Deus. Como homem e cientista, gostaria de poder acreditar num engenheiro criador. Tudo funcionava bem demais: a natureza, os seres vivos, a interação entre eles e com a natureza. O corpo humano, ele próprio, era uma máquina perfeita. A matemática, a química, a física, tudo estava bem. 

Ao ver o espaço negro à sua frente, infinito, sentiu-se muito sozinho. Deixara tudo para trás só para poder presenciar aquele magnífico espetáculo. Só conseguia sentir solidão e medo. Muito medo. Se alguma coisa correr mal, ficará perdido para sempre naquele vazio sem fim. Teria valido a pena? Sim, valeu. Tinha sido "o privilegiado, o escolhido". E agora só queria voltar para casa: para o seu planeta, para a sua segurança, para a sua família, os seus amigos, o seu trabalho de engenharia. Agora, só queria ser normal.

 

Neste desafio participam também Ana D.Ana de DeusAna Mestrebii yueCélia, Charneca Em FlorCristina AveiroImsilvaJoão-Afonso MachadoJosé da XãLuísa De SousaMariaMaria AraújoMiaOlgaPeixe FritoSetePartidas

26
Jan22

Espera sempre nada ou menos que isso.

Sam ao Luar

Aprendi com a experiência e com o mercado de trabalho que os colegas de profissão normalmente não são os nossos amigos verdadeiros, muito menos a nossa família. Os amigos verdadeiros são aqueles que o coração escolhe e a verdadeira família está em casa.

Além disso, aprendi com a idade e com o tempo que esperar alguma coisa de alguém, normalmente, é chamar a desilusão. Portanto, o segredo é esperar sempre nada, ou menos que isso. O risco de desilusão é anulado.

Tendo como premissa o facto de que o nosso local de trabalho encerra quando estamos de baixa, supomos que somos de facto imprescindíveis. No entanto, esperamos que alguém nos pergunte, no mínimo, se estamos bem e prontos, física e psicologicamente, para regressar. Do outro lado, no entanto, obtenho silêncio. É triste mas fazes a vida acontecer normalmente, como sempre, até agora. Vais desempenhar as tuas tarefas de modo sublime, como até então.

Não esperes agradecimento pela tarefa desempenhada, porque foi para isso que foste contratado. Faz o teu trabalho, o melhor que souberes, não para obteres reconhecimento, mas para dormires bem, todas as noites, com a consciência tranquila. As críticas, se as houver, são rápidas e falam alto. Os problemas têm que ser rapidamente resolvidos.

Tudo o que aprendemos, no mercado de trabalho, chama-se "experiência". Guarda-se tudo e um dia escreve-se um livro cujo título será "poder de negociação" e será aberto em ocasião oportuna. 

18
Jan22

52 semanas de 2022 - uma memória

Aqueles pontapés da vida...

Sam ao Luar

Desafio de Escrita - 52 semanas de 2022

Gostava de partilhar uma memória feliz. Mas não.

Hoje vou partilhar uma memória de uma situação alarmante, que acontece de certeza com muitas mulheres por esse mundo fora. É uma injustiça. Deveria ser ilegal. Tira-nos o tapete debaixo dos pés, desiquilíbra-nos. A nossa tentação é cair desamparada no chão. No entanto, as mulheres levantam-se e procuram outro tapete. Mais uma vez.

Trabalhei algum tempo numa empresa na qual desempenhava uma função que nada tinha a ver com a minha formação. Acabei por gostar do trabalho. Considero que me tornei boa naquilo que fazia, a ponto de me proporem o contrato a termo, com renovações automáticas, como manda a lei, até à entrada nos quadros da empresa. O meu contrato foi renovado duas vezes. 

Estava grávida. Trabalhei até às 38 semanas. Não ia à casa de banho muitas vezes, trabalhava maioritariamente sentada, a falta de mobilidade não era um problema. Comia e bebia nas horas devidas e não mais. Entretanto, meti licença de maternidade. 5 meses, que são meus de direito e o meu bebé nasceu em Janeiro. É fazer as contas...

Lembro-me perfeitamente que o meu contrato acabava a 30 de Maio. 15 dias antes fui chamada. O meu contrato não iria ser renovado pela 3a vez, logo, não iria ficar efetiva na empresa. Pelo contrário, fiquei desempregada, com um pequeno de meio ano nos meus braços, sem perspetivas, desmoralizada, injustiçada. Eu sei que trabalhava bem, que cumpria os objetivos e fazia mais do que aquilo que inicialmente me estava destinado. Aprendi o trabalho, desempenhei-o melhor que bem. 

Tenho a certeza que o empregador não queria nos quadros da empresa um "mãe", com direito a horário de amamentação, faltas justificadas por assistência à família e com outras responsabilidades que, de repente, passei a ter. Tenho a certeza que o empregador não queria passar um bom funcionário à efetividade, porque isso traz outro tipo de encargos à empresa. Tenho a certeza que o empregador não fez nada de ilegal, porque não foi uma rescisão de contrato. Foi uma não renovação no tempo certo.

Se me senti enraivecida? Sim. Se me senti desolada e deitada fora como lixo? Também. Se me senti desamparada e com medo do futuro? Óbvio. Se continuei a procurar, outra e outra vez, começar do início, tudo de novo? Não poderia ser de outra maneira. 

Quem passa por este tipo de violência emocional resigna-se mas aprende. Aprende que o trabalho não é tudo, que a família está em casa. Aprende que os colegas de trabalho nem sempre são amigos e que os pontapés no rabo são gratuitos. 

 

17
Jan22

"Queres casar comigo?"

Sam ao Luar

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Eles caminhavam sempre todos os fins de semana: ele oferecia-lhe flores, ela enfiava-lhe o braço e davam assim a sua volta. Falavam de tudo: da semana, do trabalho, das ansiedades e da vida. Conheciam-se desde sempre ou assim parecia.

Nenhum deles tinha uma cara metade. Nunca tinham encontrado alguém que lhes falasse mais alto ao coração, ou então o destino nunca o quis. A sociedade ensinou-lhes que a amizade entre homens e mulheres é impossível e por isso, muitas vezes. eles confundiam e estranhavam os seus próprios sentimentos: amizade, respeito, companheirismo. No fundo, amavam-se daquele modo estranho que só eles entendiam. Queriam, mais do que tudo, o bem estar e a felicidade um do outro.

Ao passar por um muro recém-construído, ainda o revestimento não tinha tido tempo de secar, ele parou. Apanhou um pauzinho do chão e escreveu sem preconceitos "queres casar comigo?". Sim, eles amavam-se. Ela prometeu-lhe que, se o tempo passasse e eles continuassem sem as suas respetivas caras metades, nunca ficariam sozinhos. E mesmo que encontrassem e o mundo desse as suas voltas. Aceitou sem hesitar.

Continuaram a sua volta, desta forma, de mãos dadas.

 

Desafio aceite!

10
Jan22

52 semanas de 2022 - 10 coisas que te deixam feliz

Sam ao Luar

Desafio de Escrita 52 semanas em 2022

Sem nenhuma ordem em particular. Há mais, sem dúvida, mas estas saíram quase imediatamente.

  • O Mar 

E tudo o que lhe pertença: o cheiro, a praia, os pés na areia, a água fria, o barulho das ondas, a salitre no cabelo, caminhar nas rochas.

  • O Pôr do Sol

Ou como diz o meu mais pequeno "a cor do sol". O final de mais um dia, o sentimento de objetivo concluído.

  • O cheiro de trás da orelha do meu filhão e o seu beijinho gordo

Pergunto-me se ele vai cheirar sempre ao meu bebé, ou se é melhor ir aproveitando enquanto me deixa focinhá-lo todo.

  • Ir ao ginásio

Não podia faltar, né?

  • Colocar as fitas antes das aulas de combat e trautear baixinho as músicas.

A antecipação. É o meu único ritual.

  • Comer (e conviver) ou Conviver (e comer)

Qualquer coisa, acompanhada de boa companhia e uma boa bebida.

  • Fazer amor

Aquilo que todos pensamos e ninguém diz.

  • A música

Sozinha, com a minha música. No carro, no banho, no ginásio, em qualquer lado. É quando imagino o meu pequeno mundo dentro do mundo: tem personagens, vidas, cenas, filmes, ação e romance. Tem de tudo!

  • Alguns cheiros

Um pacote de batatas fritas acabado de abrir, pipocas, o desodorizante do meu homem, relva acabada de cortar, roupa lavada, café, protetor solar.

  • Sentar no sofá e sentir o calor do sol a bater nos pés.

De repente, lembrei-me da banda sonora do filme Música no Coração:

"I simply remember my favourite things and then I don't feel sooo baaadddd."

 

08
Jan22

Dias nublados.

Sam ao Luar

Há dias que parecem assim... nublados. Parece que a nossa mente fica turva, como se estivessemos submersos em água e só conseguimos ouvir assim uns sons abafados. E apesar de ser um dia, vá digamos, daqueles até bonzinhos, parece que anda à nossa volta uma nuvem estranha, um nevoeiro frio. Estamos apáticos, anestesiados.

E tudo porque nos damos ao luxo de pensar que as pessoas, na sua generalidade, são boas. E o facto de parecerem boas, não faz com que o sejam. Sim, eu já sabia. Já sabia que quanto mais damos, mais nos tiram. Quanto mais estendemos a mão, mais nos comem os dedos. E quanto mais abrimos os braços, melhor se vê o coração. 

Apetece-me vestir aquela capa grossa outra vez. Não é para não ter frio, é para que não se veja cá para dentro. E levar dentro da minha capa aqueles que dela também precisam.

 

03
Jan22

52 semanas de 2022 - Descreve a tua personalidade

Spoiler alert: não vão gostar...

Sam ao Luar

Desafio de Escrita 52 semanas em 2022

Tema 1: Descreve a tua Personalidade

Era eu ainda nova, a minha mãe gritou-me que eu era fria e calculista. Ela tinha razão. Mas para apimentar aqui a coisa, pedi ao meu companheiro de vida para descrever a minha personalidade em 5 palavras: teimosa, possessiva, corajosa, determinada e chata (acho que esta última foi para despachar...).

Eu sou fria e calculista. Sou insensível, instável (ora estou muito bem ora estou muito mal) mas também sou apática, muitas vezes. Sou aquela pessoa que enche, enche, enche e depois explode e... saiam da beira, quando isso acontece. Sou ciumenta e possessiva. Muito: o que é meu, é meu, tira daí as ideias. Em relação a tudo: amor, amigos, comida! Preciso da minha estabilidade, dos meus pés no chão, dos meus bens materiais. Sou preguiçosa para tarefas domésticas. Sou teimosa como uma mula, não suporto que não me deem a razão quando sei que a tenho, detesto que me diminuam e me retirem o valor. Não gosto de ter a fama e não ter o proveito. Sair da rotina cria em mim muita ansiedade. 

É tudo mau? Talvez não. Sou muito intuitiva, confio quase cegamente na minha intuição, ela tem quase sempre razão. Sou inteligente, trabalhadora, tento ser boa em tudo o que faço. Sei que não sou a melhor. Esforço-me, pelo menos. Faço tudo o que posso pelas pessoas de quem gosto, mesmo aquelas que não mereçam. No final, normalmente quem perde sou eu. Sou boa ouvinte, mas não sou boa conselheira. Acho que sou aquela que está presente mas em silêncio.

Detesto perder. No jogo, na vida, em tudo. Tenho dificuldade em acreditar em mim e não confio em elogios. Sou impiedosa e vingativa. Na generalidade, acho que não sou boa pessoa. Ou então, tenho consciência daquilo que é mau mas ainda não acredito naquilo que tenho de bom.

 

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