Desafio Arte e Inspiração - 40 anos
Participam no desafio: Ana D, Ana de Deus, Ana Mestre, bii yue, Célia, Concha, Cristina Aveiro, Fátima Bento Gorduchita, Imsilva, João-Afonso Machado, José da Xã, Jorge Orvélio, Luísa De Sousa, Maria, Maria Araújo, Marquesa, Mia, Marta, Olga, Peixe Frito, setepartidas
40 anos de Fátima Mano
Será a desinspiração normal? Será a insensibilidade normal?
Quantas vezes dou por mim a não sentir. A não ter opinião ou comentário a fazer. A não me apetecer justificar, dar que falar ou participar em qualquer diálogo ou discussão.
Apetece-me passar despercebida, que não me façam perguntas para não ter que dar as respostas. Não quero ver notícias para não saber o que se passa. Para não ver a desgraça alheia, nem a felicidade dos outros, tão pouco. Dessensibilizar-me e desinspirar-me.
É cansativo ter que saber sempre o que dizer. É cansativo ensinar, passar o conhecimento. Quero ficar com ele para mim, com o que tenho e não ter que me preocupar se o passei. Quero fazer com ele o que me apetecer e dizer aos outros que o procurem, como eu procurei.
Quero poder sentar numa mesa de café, sozinha, sem sentir o peso da responsabilidade de que deveria estar noutro sítio qualquer, a fazer o que quer que fosse mais útil. Só estar. Quero sentar num banco de jardim, em frente ao rio, sentir a meresia lá ao fundo na foz, e não ter que pensar, nem sentir. Pegar naquela imagem e não ter que fazer o que quer que seja com ela. Tudo hoje em dia é uma foto, um clique, uma procura de amor fictício à distância.
Tudo é uma responsabilidade de partilhar, ser visto, ser ouvido, ter opinião, ser inovador, ser diferente. Não há orgulho em ser normal, passar despercebido, sentir o sol na cara ou os pingos da chuva e não dizer a ninguém.
Eu chamo-lhe desligar o cérebro, porque também ele é uma máquina. E o meu? Precisa descansar.