Era uma vez a dependência emocional
"Era uma vez, num reino não muito distante, um príncipe que queria casar com a princesa ideal e andava, incessantemente, à sua procura. Nesse reino, vivia uma princesa que tinha uma aia. Era uma boa princesa e estava apaixonadíssima pelo príncipe desde que nasceu. O príncipe sabia e mantinha-a por perto. A aia era uma boa amiga, uma boa ouvinte, não se metia nos assuntos da princesa e não fazia perguntas nem falava o estritamente necessário. Almejava um dia ser ouvida também.
Um belo dia, tudo corria bem no reino, o príncipe e a princesa pareciam cortejar-se às escondidas. A aia tomou conhecimento de um baile no palácio e, qual fada madrinha, convenceu a princesa a ir. O baile não correu bem e a aia sentiu-me muito triste e culpada. A princesa decidiu desaparecer para sempre, sem dizer para onde ia. O príncipe, colérico, perdeu a confiança na aia e despediu-a. A aia, sozinha, vestiu o seu capote e foi, à chuva, procurar outro reino."
Poderia ser um conto da vida real que esconderia o conceito de dependência emocional, a todos os níveis. Na bibliografia disponível, "é um quadro emocional ou comportamental que compromete a habilidade da pessoa de manter uma relação saudável e satisfatória. O indivíduo projeta as suas expectativas no parceiro amoroso ou em outras pessoas e depende desse alguém para se sentir feliz, amado e capaz de fazer escolhas em diferentes esferas da vida."
Alguns sinais indicativos de dependência emocional (que pode ser de amor ou amizade) incluem incapacidade de abandonar a relação, mesmo sabendo que se é infeliz; medo de estar só e incapacidade de disfrutar de momentos de solidão; necessidade constante de provas de amor/amizade; necessidade de constante aprovação por parte do outro; medo de decepcionar o parceiro; submissão. Acima de tudo, a dependência emocional está relacionada com uma baixa autoestima e a necessidade de constante aprovação.
Obviamente que o príncipe, belo e desejado, não tem uma baixa autoestima mas é incapaz de estar só. A sua necessidade de uma parceira para a vida é tão forte, procura tanto o ideal e a perfeição (que não existe) que é incapaz de desamarrar alguém e lhe dar a liberdade para procurar, nem que seja, um pagem. Por sua vez, a princesa e incapaz de abandonar uma relação que lhe traz infelicidade e procura, incessantemente, o carinho, as provas de amor que suprimam os sentimentos de baixa autoestima. E todos resquícios de atenção são achas na sua fogueira, são cordas amorosas que a prendem a uma relação inacabada, sem futuro, apenas alimentada com esperanças.
A aia... No fundo, a necessidade de alguém que a ouça, que a entenda, que perceba que a sua necessidade de aprovação e o medo de dececionar o outro, que está relacionado com a educação que assim lhe deram. Que a sua obrigação era sempre fazer a sua obrigação. Nunca demostrar. A sua dependência é com alguém que lhe demonstre que também é capaz, que também pode. Ela também quer ser livre, quer ser uma princesa. Quer ter um príncipe e ser feliz.