A noite não é boa conselheira.
Diz o povo que a noite é boa conselheira. Pois, eu cá não acho.
Compreendo, no entanto, tal afirmação. É de noite que o cérebro tem tempo para parar e... começar a pensar naquilo que não deve.
Pois que esta mãe de um de 6, esta noite, enrola, rebola, tira combertor, põe cobertor, tira meia, põe meia, vira de barriga para baixo, para cima, mete os pés de fora, tem fome, não come, fecha o olho mas depois abre outra vez. Isto tudo porque o meu estimado cérebro, esta noite, lembrou-se que o meu único de 6 vai para o 1º ano já neste Setembro.
Ainda não saíram os resultados das matrículas, pelo que ainda não sei se ficará na escola que escolhi como prioridade. E, poranto, toda a preocupação que isso, por si só, já acarreta.
No entanto, o meu cérebro preocupa-se mais com as coisas do foro do coração e a capacidade de desenrascanso que a minha criatura terá. Imaginei o meu filho no primeiro dia de aulas e revivi a cena de à, aproximadamente, três anos atrás, em que o arrancaram do meu colo para que ficasse no infantário: "não se preocupe, mãe, ele fica bem, vai ver! sofremos mais nós que eles!". E tinham razão, mas dói no coração.
Depois imaginei a minha criança, no intervalo, com o seu lanchinho (que irei ter que começar a preparar carinhosamente todos os dias). Pensei cá para mim: e se ele não consegue abrir o iogurte? E se, por acaso se suja todo, e as outras crianças gozam com ele? e se... e se...
E se ele até tem vergonha de pedir à professora para ir à casa de banho e até tem um descuido?
Depois revivi na minha mente uma conversa que tivemos. Ele a chorar, sentado no meu colo, eu sentada no chão da casa de banho. Ele de olhar triste, cara de sofrimento. "E se ninguém gostar de mim e eu não tiver amiguinhos?" Respondo-lhe que todos vão gostar dele porque é o melhor menino do mundo!
Vão tirar o meu pequeno tesouro, de novo, do seu porto de abrigo, da sua zona de conforto.
Será que ele sofre como eu? Ou nem sequer pensa nisso e, mais uma vez, sofremos mais nós do que eles?
A noite é boa conselheira? Uma porra que é!