Mais lenha para atirar à fogueira da Greve dos Professores
Desengane-se quem já está aos saltinhos porque acha que vem mais uma dizer mal dos professores. Já passaram por aqui, de certeza, muitas críticas: que não dá jeito a ninguém, que nem todas as pessoas têm onde deixar os miúdos, que já é demais, que a gente nem sabe porque eles estão a lutar, que não tem jeito nenhum ter que esperar até às 10h, que deviam avisar com a antecedência para a malta se gerir, etc etc.
Maltinha, sou mãe de um puto de 9 e sou professora num centro de estudos, por opção. Não estou para lidar com as porcarias dos concursos nacionais de professores, escalões e trabalhar longe de casa, entre outras. E não, também não sou aquela que, coitadinha não teve outra opção. Sou professora com muito orgulho, que atura o teu filho no centro de estudos. E sou toda a favor da greve dos professores. Dói, eu sei. Mas, olha, se não arde não cura e se não aperta não segura.
Mas a mim, o que me chateia mais são os grupos no whatsapp. Qual a relação? Eu explico. Não sei se vai servir a carapuça a alguém, mas também não me importo. O mundo ainda é livre para eu poder partilhar a minha indignação. E as redes sociais servem para isso mesmo.
Tenho 1500 grupos no whatsapp: os amigos, os do pequeno-almoço e os do tal jantar de aniversário. O grupo dos encarregados de educação, o dos representantes de turma, o do ATL, do clube de futebol, o dos diretores do futebol (a gente mete-se em cada coisa...), já para não falar o do trabalho (ainda vou pensar se escrevo sobre isso ou não; não tenho motivo de queixa do meu, já o do marido...).
E no tal grupo dos encarregados de educação há sempre aquela maltinha que me causa uma certa comichão. Sim, eu levanto-me cedo, para me aprontar antes de acordar o pequeno. Eu levanto o meu filho cedo, para se aprontar antes de ir para a escola e saio de casa a tempo, por causa do trânsito. Não quero educar o meu filho a chegar atrasado. E, nos dias de greve, há sempre aquele que diz, 1h antes das aulas começarem: "sempre já se sabe se há greve?" Não, senhora. TAL COMO EM TODAS AS GREVES ANTERIORES, só sabemos se há greve às 9h, horário letivo. E depois às 9h em ponto "e agora? já sabemos se há greve?". Não respondo.
A mim, pessoalmente, incomoda-me que estas pessoas estejam à espera do último minuto para saberem se tiram o menino da cama ou não. E mesmo que já esteja acordado, que esperem que alguém responda para saber se sai de casa ou não. Parece que consigo ouvir: "anda lá, XXX, já vais chegar atrasado porque afinal não há greve, a professora podia ter dito logo ontem, também que má vontade". Ou então, "pronto, XXX, nem precisas tirar o pijama, nem sei para que estive com o trabalho de pôr tudo pronto para hoje, se a professora já sabia que era greve podia ter dito logo, que má vontade!". E assim se educa uma criança na desnecessidade de lutar pelos direitos, sejam eles nossos ou dos outros. É tudo uma má vontade, é tudo desnecessário, é tudo um "já chateia".
E ainda me incomoda mais que estes encarregados de educação estejam mesmo à espera que haja outro encarregado de educação em frente à escola, à chuva, ao frio, com o filho bem perto, de carapuço, à espera para saber se há greve, para poder organizar a vida, vai-se lá saber... mas que tenha que estar atenta (acima de tudo) ao telemóvel, com dados móveis ligados (sim, porque de outro modo não recebe mensagens de whatsapp), para informar a tal pessoa, que está em casa, no sofá, de telemóvel na mão, à espera para saber se calça as sapatilhas ao puto ou não. Coitada/o, não vai sair de casa sem necessidade, certo?