Fui vacinada e sobrevivi.
Ontem fui eu a feliz contemplada com a sorte grande: fui vacinada. Nunca uma geração se sentiu tão feliz com uma picada!
Foi uma sucessão estranha de sentimentos. Primeiramente, senti-me triste. Como é possível que um "ser", que nem sequer é considerado ser vivo e que não se enquadra em nenhuma das classificações existentes de Whittaker (#teamscience) tenha feito tamanho estrago?
Os virús são tão somente cápsulas proteicas com um ácido nucleico dentro (DNA ou RNA), cuja única função é apropriar-se indevidamente da capacidade replicativa das células que infeta e, indevidamente, sem permissão, pô-las a copiar e a produzir mais vírus bebés. Bolas! Se Darwin fosse vivo, daria voltas toda a noite na cama. Então o objetivo primordial da vida não era a reprodução para dar continuidade às espécies?
Depois senti-me um pouco que indignada. Em fila, ordeiramente e em silêncio, pareciamos todos gado em direção à matança, em direção ao corredor da morte. Foi muito estranho este sentimento e comecei a pensar em todas as teorias da conspiração. E se fosse mesmo isso? E se os estados tivessem feito um complô para instalar em nós circuitos nanotecnológicos de rastreamento? Ou então, quando os recursos da mãe natureza já não forem suficientes, matam metade da população à custa desta cápsula microscópica de veneno que nos injectaram, com o objectivo de salvar o planeta Terra.
No entanto, via-se em todos os rostos a expectativa de um futuro um bocadinho melhor.
Quero dar os parabéns a todos os profissionais, independentemente da sua área, que lá estavam. O tempo de espera foi pouco, tudo correu ordeiramente, planeado ao pormenor. De repente, todo o português aprendeu a respeitar o espaço do próximo (se esta situação toda serviu para alguma coisa, foi para a população mundial aprender a circular aem filinha indiana!). A enfermeira que me comtemplou com o prémio confidenciou-me que marcavam, só naquele centro de vacinação, 4 utentes ao minuto! E que, ao minuto, se vacinavam muitos mais. Respeito!
Daqui a uns anitos diremos aos nossos netos "eu sou do tempo em que apareceu o Covid". E com orgulho diremos que passamos quarentenas, isolamentos, dificuldades a todos os níveis, e sobrevivemos.
Não quero atirar areia para os olhos de ninguém, mas continuo a ter a esperança de que vamos ficar todos (mais ou menos) bem.