Vamos ser amigos outra vez?
Hoje passei por uma situação que me deixou de coração partidinho.
Premissa n.º 1: há regras de frequência das praias em tempos Covid; manter a distância entre guarda-sóis e essas tretas.
Premissa n.º 2: crianças querem briancar com outra crianças; filhos únicos querem brincar com os filhos dos outros.
Posto isto, estava eu sentada na areia, na linha de água, com o meu pequeno a brincar junto às rochas, a atirar pedrinhas ao mar. 10 metros mais a sul, está outro pequeno, sozinho, a fazer exatamente o mesmo. O meu pequeno pergunta se pode ir brincar com ele, respondo que pode, mas que sabe que não pode ir muito para a beira dele, a mãe dele pode não achar bem (relembro, que em tempos covid temos que ter estes cuidados, para não ferir susceptibilidades).
Às tantas, pergunta-me envergonhado: "mas, ò mãe, o que é que digo?" Meu Deus, pensei, como é que uma criança, em idade escolar, tem esta dificuldade em socializar? Tive tanta pena! Suponho que o problema não seja do meu filho único, mas de todos os filhos que foram privados de contacto social, vai já fazer 2 anos disto, e perderam a noção de como se faz amigos. Como pode uma criança estar já preocupada com estas coisas, supostamente, tão simples e inocentes?
Respondi: "então, perguntas-lhe o nome e se podes brincar com ele!" E foi o que fez, salvaguardando a distância. Chamava-se Diogo e durante uns breves minutos estiveram os 2 a procurar pedrinhas na areia e atirar ao mar. Às tantas, aproxima-se uma senhora, suponho pela idade que seria a avó e disse, não de modo arrogante ou pedante, mas de modo a que eu ouvisse "já te disse que tens que brincar sozinho!"
Como é?
Como é possível que se possa pedir a uma criança para que brinque sozinho? Para que não tenha contacto com outras crianças? Como é que o medo pode estar já tão enraizado em nós que nos obrigue a pedir a uma criança para que isole, não interaja com outras crianças, que seja sozinha?
Acredito que as nossas crianças Covid tenham dificuldades a todos os níveis, no futuro. De aprendizagem, de socialização, independência, até de imaginação. Sinto-me infinitamente triste por termos todos que passar por estas situações, cuja culpa não é de ninguém, mas é de todos.
No entanto, uma réstia de esperança cresceu em mim, no momento em que o Diogo e a família passaram por nós, à ida embora.
- Xau Diogo - diz o meu.
- Xau!!!
- Vês? Fizeste um amigo, pode ser que amanhã venha outra vez - disse a avô.